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Entraram no meu corpo e derrubaram a minha vida.
tenho que ter muito cuidado com o que penso, Não posso esconder-me, vou ter de actuar, não posso fingir que não está aqui ninguém, há uma presença aqui ao meu lado, a respirar.
O ar que se respira aqui é tão puro que dói.
A pressão da gravidade é tão grande que mói.
Vinte quilos na língua, outros tantos nas pernas, não posso mexer nas lembranças internas, não vá algo trair-me, no rosto transparecer.
É como abrirem a pele e meterem lá os dedos, torcendo as tripas e descobrindo os segredos.
Confessarei o que quiserem se me deixarem pensar, se tudo o que eu penso não for gritado no ar! Se tudo o que eu sou não posso realmente ser.
É uma sala com vidros e milhares de pessoas a ver! Parece que o meu quarto é uma cela de jardim zoológico, e Onde está? Sou eu, claro que é lógico! E por muito que me desvie estendem-me uns ferros parecidos com garfos, torcidos e perros.
Acabei de fazer uma comparação cruel.
Tudo o que eu penso está escrito nestas paredes. Paredes.
Tudo o que eu sou apanhado pelas redes.
Enquanto eu hesitava em dar uma resposta, estava a ferver com a febre da ressaca do veneno.
Mas os seus lábios da cona estavam frios.
Os dedos que se sentaram hoje ao meu lado, numa sala de aula onde habitualmente me sento sozinho, ser-se perfeito, quando somos obrigados a fazer alguma coisa que nos tira a nossa melhor postura.
Esses dedos pequenos de um tom de pele branca, com uma forma quase infantil umas unhas tão habilmente aparadas conseguiram mostrar tamanha beleza, raramente vista pelos mortos e nunca vista pelos vivos.
Enquanto os meus débeis e desleixados dedos tentavam capturar a perfeição, escrevendo os seus traços num peda- ço de papel, ao mesmo tempo questionava o porquê de tal não questionava que ela tivesse aparecido a mim, mas sim o Assim que ganhei coragem comecei a seguir caminhos Queria ver onde estava tão bela criatura presa.
E vi! Mas assim que vi, não me consegui controlar fiquei e o suor escorria pelas fontes abaixo.
Depois de pedir a Deus força dirigi a minha fúria para o Só três ou quatro murros e a aluna de uma cara comum de uns cabelos castanhos compridos comuns, finalmente tombou.
Essa era agora vista por todos os meus colegas e professores, Uma pessoa temente de Deus não teria ficado com a espinha Ela tinha de ter vindo do inferno para me distrair. Essa gritei logo que era minha, muitos segundos antes de terem começado uns a gritar, outros em pânico a chorar e Eu gritei –”A mão é minha!!”.
Ao tocar-lhe nos lábios veio-me à memória um paladar, que quanto mais eu entrava mais o sabor se tornava fami- E a minha língua curiosa, instintivamente, tentou mergu- tinha os olhos fechados à chave para mim.
Foi num desses momentos onde uma mulher atacava e que descobri o verdadeiro sabor daquela língua.
Soube-me a vaca. Vaca. Muuu. Muuu. Vaca.
daquelas que a minha avó mergulhava na sopa quando me- recia um prémio pelas batalhas que tinha lá com os putos “Éramos de uma família pobre, está a ver senhor guarda, a que aquele pedaço de carne me proporcionou, instintivamente lhe cobri a língua de mentiras e beijos para conseguir descodificar tal sabor familiar, também foi por instinto que lhe arranquei a língua.
Não a arranquei de uma só dentada, senhor guarda, como que tivesse algum receio, de não a conseguir devorar eu fugi para o ano de mil novecentos e oitenta e oito, para uma refeição quente em família.
Que saudades desse tempo feliz senhor juiz.
Tempo esse que eu pensava que nunca mais regressava.
Esse, onde não havia lugar para soluços, tempo para dor, choros ou tempo para casas de banho Queria que uma rapariga se afogasse.
Queria estar lá, atento, rígido, rápido, eficaz, preparado.
Como se a minha vida dependesse disso – não a vida da Queria que uma rapariga tivesse uma indisposição, um mús- uma corrente forte, uma má relação, uns pais desatentos, um namorado relaxado. Ela apanhada por um remoinho.
Queria que ela se afogasse. Se sufocasse.
Queria tocar nos lábios com os meus.
Queria uma rapariga. Só para a beijar. Como se faz nos Não me importa que ela não me ame.
Desconfio que a minha mãe não ama o meu pai.
Menos auto estima, mais fácil de controlar. Dobrar.
Ela seria a primeira mulher da minha vida.
Culpa da minha mãe que deixou o meu pai enganá-la, Culpa da minha língua amarelada (estarei eu doente?) Culpa da língua portuguesa, do linguado, Culpa dos tribunais que as afastam de mim (cem metros) Culpa das minhas primas da aldeia que nunca facilitaram Culpa de eu nunca ter tido mota para engatar.
Culpa das doenças sexualmente transmissíveis, Culpa de Cristo, do padre e das beatas.
Culpa dos putos e das colegas que me gozavam na escola, Culpa da minha terra por não ter parido o amor da minha Culpa das hipérboles, pleonasmos e metáforas.
Culpa dos meus braços compridos que não servem para Culpo o tempo porque corre mais rápido que eu, Culpo-te a ti por nunca te ter beijado, roubado ou violado.
Tenho quase trinta anos e nunca beijei ninguém. Culpa de Uma carne específica. Uma alma específica.
Um tipo de carne que muito possivelmente já não tivesse uma alma que hipoteticamente, já não estivesse aqui comigo.
Nem feito amor comigo nem fodido comigo, nem de ter Eles procuram alguma coisa que já me abandonou ou algo nem desmoraliza com o passar do tempo.
Coçam, e vão cavando na pele buracos, valas, Destroem prédios e casas, fazendo viúvas até fazerem feridas.
isto está a acontecer, precisamente no momento Alguém está a mexer e a remexer carnes passadas.
Quanto mais se mexe na merda, mais ela cheira mal.
Numa altura onde todos os meus outros sentidos, A dor não era bem vinda, mas ela veio, e veio.
Eu fiquei cego. Não muito cego nem pouco cego.
nem o facto de agora eu ter os meus olhos verdes pendura- de não caírem para o chão cinzento.
que não procurassem mais carne em lado nenhum. Pois não havia mais carne em lado algum.
sobre o tipo de carne que eu tinha agarrado nos ossos, Manipulo o teu clítoris e a tua corrente sanguínea.
Partilho temporariamente os meus truques.
Ficas em pânico, dizes que é mijo.
Molhas-me o chão. Molhas-me o umbigo.
Sincronizo o dizer que te amo com as golfadas de mijo.
Porque a verdade é esta. E é simples.
Preocupo-me em olhar para os teus lábios quando se me- e digo que sim com a cabeça quando falas.
Pensar muito. Dar-te a sensação de democracia, de inde- Entre eu e eu outra vez, não estragues o que quero.
TEGRETOL R Pequeno almoço + deitar 400 G

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Farsa ou Tragédia? J. Roberto Whitaker Penteado A liberdade apenas aumenta as chances das coisas melhorarem. Sem ela, não há chance alguma. - Albert Camus A Anvisa proibiu a venda de cânfora nas farmácias. Bem que eu desconfiava que minha avó era uma pessoa sem juízo - e a humanidade vem sendo imprudente há milênios. Tenho um amigo (leitor dos meus textos e generoso na av

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