Imagens de gênero e de sexualidade na Educação Ruth Sabat Palavras-chave: Gênero, sexualidade, currículo cultural, pedagogia cultural, mídia. Resumo - A partir da perspectiva dos Estudos Culturais, apresento neste artigo uma
discussão acerca da utilização de imagens como objeto de estudo na pesquisa em
Educação, focalizando a atenção nas representações de gênero e de sexualidade,
apresentadas nas imagens publicitárias.
O artigo inicia com uma breve discussão sobre algumas especificidades da
pesquisa na perspectiva dos Estudos Culturais, que me possibilitaram utilizar as imagens
como material de análise e trabalhar com as identidades de gênero e sexuais como objeto
de estudo. A imagens têm um modo específico de funcionamento, principalmente quando
falamos de publicidade; por esse motivo apresento, na segunda parte, as imagens
publicitárias como mecanismos educativos e pedagógicos. Finalmente, trago algumas das
principais discussões sobre identidades de gênero e sexuais que servem de aporte teórico
Argumento, ainda, que existem formas determinadas de pedagogia e de currículo
sendo operadas em diversas instâncias sociais, por diferentes artefatos culturais. Muito
mais do que seduzir o/a consumidor/a, ou induzi-lo/a a consumir determinado produto, tais
pedagogia e currículo culturais produzem valores e saberes; regulam condutas e modos de
ser; fabricam identidades e representações; constituem certas relações de poder.
Aqui a publicidade aparece, como lugar em que representações de gênero são
construídas, legitimando relações de desigualdade entre os sexos ou possibilitando formas
de contestação. Para dizer de outro modo, é a publicidade, inserida na área da comunicação
de massa, que tomo como campo de produção e reprodução de significados para analisar
de que formas relações de gênero estão sendo representadas na propaganda; de que formas
o discurso publicitário produz significados; e como tais significados podem ser
identificados em comportamentos aceitos socialmente.
A utilização de imagens na pesquisa em Educação, torna possível identificar as
formas pelas quais femininos e masculinos estão sendo representados na publicidade e,
desse modo, oferece novas possibilidades de crítica aos significados que circulam na
sociedade, relacionados às formas pelas quais as concepções de gênero e de sexualidade
são construídas para justificar características, comportamentos e atitudes atribuídas
Imagens de gênero e de sexualidade na Educação Ruth Sabat
As imagens têm um poder que engendra possibilidades de crítica e amplia espaços de
discussão. Neste artigo, parte de minha dissertação de Mestrado, apresento a publicidade
como uma das possibilidades de se trabalhar com as imagens na educação focalizando,
particularmente, as representações de gênero e de sexualidade nelas apresentadas.
Meu objetivo é demonstrar que existe um currículo cultural que está sendo trabalhado
pela mídia e que ensina modos de ser mulher e modos de ser homem; um currículo que
ensina formas “corretas” de feminilidade e masculinidade. Partindo dessa idéia é que
afirmo a possibilidade de uma leitura da pedagogia proposta pela publicidade com relação
à representação de gêneros e de sexualidades, supondo que tal representação1 contribui
Os estudos de gênero afirmam que mulher e homem são categorias de análise que só
funcionam se compreendidas de forma relacional, dentro de uma perspectiva sociocultural.
Essa idéia vem de encontro a algumas vertentes da teoria feminista como, por exemplo,
aquela que tem se dedicado a construir uma história das mulheres separada da história
geral que desde sempre vem sendo escrita no masculino.
Nesse sentido, voltar a atenção para as relações de gênero na área da Educação
envolve —além de considerar o aspecto relacional dos gêneros— questionar as relações de
poder que são tramadas a partir da produção do conhecimento; a partir de significados
produzidos socialmente sobre o que deve ser entendido como feminino e como masculino;
a partir da construção de representações hegemônicas em torno de comportamentos sociais
considerados adequados a mulheres e homens. São diversas as distinções produzidas a
partir do sexo, distinções essas que estão presentes na educação formal e nas práticas
educativas mais amplas, configuradas na produção cultural da vida cotidiana.
Inicialmente, apresento uma breve discussão sobre algumas especificidades da
pesquisa na perspectiva dos Estudos Culturais, que me possibilitaram utilizar as imagens
como material de análise e trabalhar com as identidades de gênero e sexuais como objeto
de estudo. A imagens têm um modo específico de funcionamento, principalmente quando
falamos de publicidade; por esse motivo apresento, na segunda parte, as imagens
1 Da forma como estou utilizando aqui, o conceito de representação está relacionado com enunciações que se constróem sobre o outro a partir de diferenças culturais de raça/etnia, gênero, idade, sexualidade, entre tantas outras possíveis; por isto, o processo de representação envolve disputa de significados que são produzidos socialmente e que são produtores de diferenças.
publicitárias como mecanismos educativos e pedagógicos. Finalmente, trago algumas das
principais discussões sobre identidades de gênero e sexuais que servem de aporte teórico
As questões de gênero, assim como as de sexualidade, são centrais aqui. É a partir dos
estudos de gênero, na perspectiva pós-estruturalista, que busco compreender
representações de masculino e de feminino na publicidade. Entendo que os modos como
homens e mulheres estão sendo representados nessas imagens, são formas de constituir
identidades, de narrar modos de vida, comportamentos “adequados”, de regular condutas.
Tais formas de representação estão em relação direta com o discurso publicitário; ou seja,
as estratégias utilizadas pela publicidade para representar gênero e sexualidade nas
imagens estão ligadas a toda uma rede simbólica da qual o discurso publicitário
apropria-se, para vender produtos ou idéias.
1 A pesquisa por imagens
Tradicionalmente diferentes metodologias e técnicas devem ser previamente
selecionadas, de acordo com o problema a ser investigado, para que possam balizar a
pesquisa do começo ao fim. Na perspectiva dos Estudos Culturais o processo não ocorre
dessa forma. Por esse motivo, o contato com outras possibilidades de pesquisa, suscitadas
principalmente em função da chamada “crise de paradigmas”, é um interessante desafio.
Até há pouco tempo a possibilidade de realizar uma pesquisa onde o/a pesquisador/a
pudesse tomar posição; que dispensasse a apresentação de tabelas e quadros estatísticos, ou
a utilização de entrevistas e questionários, era algo inconcebível. Entretanto, como crises
são sempre produtivas, essa “crise de paradigmas” — que tem lugar na ciência moderna ao
questionar as concepções epistemológicas que têm direcionado a produção do
conhecimento — traz a possibilidade de que outros métodos, outras posturas possam ser
adotadas frente à pesquisa acadêmica. Segundo Marisa Costa (1996, p.10) “(.) não
importa o método que utilizamos para chegar ao conhecimento; o que de fato faz diferença
são as interrogações que podem ser formuladas dentro de uma ou outra maneira de
conceber as relações entre saber e poder”. Do mesmo modo, a postura de quem está
pesquisando, não deve ser de neutralidade frente ao conhecimento. A própria forma de
entender o conhecimento já é, ela mesma, desafiadora, valorizando o processo de produção
do conhecimento como histórico, compreendendo-o permeado por relações de poder e
ampliando os seus lugares de produção para além dos espaços acadêmicos.
A questão da historicidade do conhecimento que está sendo produzido, assim como, de
quem o está produzindo e o processo de construção desse conhecimento, nada disso precisa
estar oculto na pesquisa e essas são algumas das rupturas com o modelo mais formal da
ciência moderna. Ao contrário, o posicionamento da pesquisadora ou do pesquisador é bem
vindo, assim como a certeza de que a pesquisa faz parte de um momento histórico
localizado no tempo e no espaço e, por isso, não é aplicável a qualquer situação que tenha
Outra importante ruptura que podemos identificar como resultante desta “crise de
paradigmas” está na linguagem utilizada para construir o discurso científico ou acadêmico.
Para a ciência moderna, a utilização de uma linguagem precisa e objetiva é fundamental
para a garantia do rigor científico. Para Boaventura Santos (1989), a confiança exclusiva
neste tipo de linguagem, terminou por marginalizar outras formas como a literária ou a
humanística que utilizam freqüentemente como recursos de escrita a metáfora ou a
analogia, por exemplo; ou ainda, elementos cognitivos como emoção, paixão, desejo. Tais
elementos só podem ser aceitos enquanto objetos de estudo por não serem condizentes com
o pensamento racional que exige uma posição de neutralidade e assepsia.
É comum observarmos nas pesquisas desenvolvidas no campo dos Estudos Culturais a
utilização de autoras e autores de diferentes perspectivas teóricas. Esta "heresia" é
permitida se considerarmos que os Estudos Culturais são marcados pela pluralidade de
possibilidades analíticas. A grande inovação que eles trazem à cena acadêmica é a
diversidade de perspectivas teóricas utilizadas para balizar as pesquisas realizadas.
Entretanto, longe de ser um aspecto facilitador da pesquisa, tal pluralidade requer um
cuidado extremo para que não seja realizada uma análise onde qualquer coisa pode ser
válida. Segundo Cary Nelson; Paula Treichler; Lawrence Grossberg (1995, p.9), “[a]
metodologia dos Estudos Culturais fornece uma marca (.) desconfortável, pois eles, na
verdade, não têm nenhuma metodologia distinta, nenhuma análise estatística,
etnometodológica ou textual que possam reivindicar como sua”. A construção das
estratégias de análise é um processo que vai sendo desenvolvido no decorrer da pesquisa
considerando, principalmente, as perguntas que são formuladas.
Nesse sentido, tem sido útil o conceito de bricolagem desenvolvido por Claude
Lévi-Strauss (1976), no livro O pensamento selvagem, para estudar os mitos de diferentes
povos. O bricoleur trabalha com as mãos, executando diferentes tarefas, que não estão
subordinadas à obtenção de matérias-primas ou de ferramentas pré-determinadas. Os meios
utilizados pelo bricoleur são contingentes e não estão determinados por um projeto. O
conjunto dos meios utilizados “define-se somente por sua instrumentalidade, para dizer de
maneira diferente e para empregar a própria linguagem do bricoleur, porque os elementos
são recolhidos ou conservados, em virtude do princípio de que ‘isto sempre pode servir’ “
(ibidem, p.38-39). A bricolagem pode ser, assim, compreendida como um caminho
produtivo para lidar com um material empírico tão complexo como as imagens
publicitárias. Para Roberto Da Matta (1995), a publicidade, assim como o pensamento
selvagem, tem uma pretensão de totalidade que busca dar sentido a todas as coisas, daí a
pertinência em trabalhar com a bricolagem como método de análise.
Sua pertinência pode ser justificada, ainda, pela própria crítica pós-estruturalista às
narrativas totalizantes que têm a pretensão de explicar diferentes acontecimentos sociais a
partir de uma teoria única. A bricolagem possibilita identificar em diversas perspectivas ou
teorias sociais, ferramentas que podem ser produtivas na análise de eventos culturais. Isso
posto, vale dizer que, inicialmente, situo esta pesquisa no campo dos Estudos Culturais,
rejeitando toda e qualquer teoria que seja a-histórica ou que justifique as diferenças sociais
A importância de pesquisas utilizando imagens e discutindo gênero e sexualidade na
área da Educação, justifica-se pelo fato de que estamos acostumadas/os com pesquisas
sobre Educação ou Pedagogia que se realizam no espaço físico da escola. Na perspectiva
dos Estudos Culturais, o ponto de partida é a cultura, ou seja, o modo como a cultura é
compreendida nesse campo de estudos. A cultura não é o fundamento de tudo ou a origem
das coisas, mas aqui ela, de fato, assume um lugar importante. É a partir da perspectiva
cultural que dirijo todos os meus olhares para o objeto escolhido; também ela serve de
limite para a abordagem de diferentes aspectos tais como a questão da representação e das
relações de poder, além de relações de gênero.
2 Pedagogia das imagens
Os Estudos Culturais têm um caráter eminentemente político, definido,
principalmente, pela concepção de conhecimento como algo inseparável das formas sociais
e culturais pelas quais ele é produzido, como também pelas relações de poder que
permeiam o conhecimento. Além disso, o próprio nome já invoca a importância da cultura
como lugar de partida para as análises realizadas desde essa perspectiva. Pode-se encontrar
nos Estudos Culturais um campo teórico fértil para a Educação, a partir do momento em
que supomos que todo saber é elaborado em conexão com as relações sociais, culturais e
de poder; ele é produzido em diferentes tempos e espaços sociais.
Levando em conta tal afirmação, podemos considerar que a publicidade é um desses
mecanismos educativos presentes nas instâncias socioculturais. Ela não só possui
características como prazer e diversão, como também educa e produz conhecimento. A
publicidade também pode ser considerada um mecanismo pedagógico onde representações
são construídas a partir de um conjunto de práticas socialmente estabelecidas, embora, ao
mesmo tempo, possamos encontrar neste espaço algumas frestas que dão passagem a
formas alternativas de compreensão do mundo e representações outras que não as
Os anúncios publicitários estão em todo lugar, fazendo parte de nossa vida cotidiana:
na televisão, nas revistas, nos jornais, nos outdoors; em todos os momentos e lugares
vemos imagens de produtos à venda no mercado, exibidos através de propagandas. É por
meio da mídia que diariamente observamos imagens de femininos e masculinos
construídas com o objetivo de vender algum produto ou alguma idéia. Cercadas/os como
estamos por imagens, o acesso às revistas e, consequentemente, à publicidade por elas
veiculada, é mais uma etapa no processo de consumo, onde sujeitos consomem não só
mercadorias como também valores que estabelecem como deve ser o corpo, como
devemos nos vestir, quais comportamentos valorizar, isso tudo não somente através das
marcas de gênero, como também de raça/etnia, classe, geração, para citar algumas.
Assim, juntamente com a imagem de um produto que está à venda em uma
propaganda, encontramos signos que carregam marcadores culturais e sociais com os quais
tal produto pode ser associado e que nos “falam” de relações externas àquela imagem.
Neste processo de significação, ocorre um intercâmbio entre qualidades dos objetos e
qualidades humanas, estabelecendo ligações entre certos tipos de consumidoras/es e certos
tipos de produtos, e criando símbolos que passam a ser considerados como “dados” ou
A relação que pode ser estabelecida entre a imagem apresentada em um anúncio
publicitário e alterações no modo de comportamentos e valores, não se dá de forma direta e
automática. Segundo Judith Williamson (1994), nós somos levadas/os a fazê-la a partir de
2 Para dizer de outro modo, a publicidade não pode ser considerada como um mecanismo que traz representações hegemônicas sempre; afinal, representação não é algo fixo, ela se dá em meio a inúmeras possibilidades. Algumas representações de grupos chamados “minoritários” podem ser encontradas nas imagens, a partir de discursos que estão circulando na sociedade, simplesmente como estratégia de venda.
Sistemas de Referentes (Referent Systems), que trazem seu sentido de fora da publicidade,
ou seja, da vida social. Significados estabelecidos entre o que é mostrado e o que se vê são
construídos a partir de sistemas de referentes que existem na vida social, a partir dos
discursos que circulam na sociedade e nos constituem. Ou seja, a vida social é um referente
constituído pelos discursos, produzido pelos significados e são esses significados que vão
tecendo uma rede através da qual damos sentido às imagens que chegam à nossa visão.
Com o objetivo primeiro de vender algo, a publicidade dispõe das mais diversas
estratégias para apresentar um produto, utilizando animais, crianças, mulheres, homens, ou
qualquer outro vínculo que possa estabelecer com o produto uma relação de credibilidade,
prazer e/ou necessidade. Mas essas são características mais imediatas que não demandam
muito esforço e podem ser identificadas ao primeiro olhar. Uma leitura crítica, ao
contrário, requer um processo de estranhamento, 3 conceito tão caro à Antropologia; tal
leitura invoca um olhar ativo, através do qual as imagens e as representações que elas
carregam podem ser contestadas e questionadas em função dos significados então
presentes. Um anúncio se propõe a vender e vender é a função da publicidade. Entretanto,
como destaca Everardo Rocha (1994, p.27), “um produto vende-se para quem pode
comprar, um anúncio distribui-se indistintamente”.
A publicidade utiliza mulheres e homens de determinada classe social, raça/etnia,
nacionalidade, desde que de acordo com padrões estabelecidos pelas sociedades ocidentais
modernas. Essas representações, porque construídas socialmente, estão carregadas de
significados e, por isso, constituem identidades, reproduzem significados, produzem outros
tantos. Desde esse ponto de vista, analisar anúncios publicitários na perspectiva do gênero,
na área da Educação, implica uma leitura crítica de vários elementos constitutivos dessa
relação que, muitas vezes, nos são apresentados de maneira tão natural que não pensamos
Como espaço de produção de significação, a publicidade também é o lugar onde são
representados códigos culturais, onde significados são trocados. Cada elemento que
compõe um anúncio publicitário é um signo que nos permite “ler” a imagem de acordo
com os códigos culturais que carregamos e/ou construir novos. Digo isso porque entendo
que os signos produzidos pelas sociedades envolvem significados abertos, infinitos, que
não podem ser fixados definitivamente. Os signos são marcas históricas, sociais e culturais,
3 O processo de estranhamento implica em transformar as coisas mais comuns e rotineiras em
acontecimentos esdrúxulos, através do distanciamento intencional do objeto estudado.
e como tal, produzem e reproduzem representações, a partir do jogo das relações de poder
que são estabelecidas. E em meio a esse processo de produção e reprodução de
representações é que a cultura, as relações de poder e as identidades culturais são
A publicidade propõe representações de mulheres, de homens, de crianças, negras/os,
velhas/os, só para citar algumas. Ela constrói um tipo de sexualidade adequado a cada
sexo, ao mesmo tempo que tenta preservar essas sexualidades. Mas a publicidade também
subverte padrões já estabelecidos, não como uma forma de contestação e sim como um
modo de chamar atenção para o produto que está à venda. Desse modo, encontramos
alguns anúncios publicitários que trazem casais homossexuais, negras e negros e/ou
pessoas com padrões de beleza que fogem da estética dominante.
Ainda assim, esses casos são poucos e se constituem muito mais em uma apresentação
de discursos que já circulam pela sociedade, como a questão da homossexualidade, por
exemplo, e muito menos pela decisão de tornar visíveis determinadas questões entendidas
como “tabus” sociais. Para dizer de outro modo, quando a publicidade utiliza-se da
homossexualidade para vender algum produto ou serviço, é porque de alguma forma esse
discurso já está circulando na sociedade. Entretanto, é preciso não esquecer que ao
apresentar esses sujeitos, a publicidade está ao mesmo tempo produzindo-os.
Sempre que pensamos em publicidade, pensamos em termos de imagem.
Entretanto, raras vezes um anúncio publicitário apresenta-se sem mensagem lingüística. A
relação texto/imagem tem sido alvo de amplas discussões, precisamente porque a ligação
que se estabelece entre eles é bastante estreita, embora sejam dois elementos de naturezas
diferentes. Não se trata de procurar a precedência do texto sobre a imagem, ou vice-versa.
Trata-se, isso sim, de tentar compreender qual é a relação que se estabelece entre eles em
Em um anúncio publicitário, imagem e texto constituem-se em uma unidade
narrativa que tem como objetivo proporcionar ao/a consumidor/a uma leitura correta a
respeito daquele produto que está sendo anunciado. Para John Berger (1972, p. 33) “o
significado de uma imagem varia consoante o que se vê imediatamente ao lado ou
imediatamente a seguir”. Na publicidade, normalmente, esta é a função do texto:
4 É preciso dizer que esta relação é, na verdade, uma inter-relação; pois se as representações constituem a cultura, as relações de poder, as identidades culturais, afirmar o inverso também é válido. Em nenhum
sobre as qualidades e as vantagens de um produto ou serviço. Para Roland Barthes (1990),
a presença do texto, ao qual ele chama mensagem lingüística, é inevitável já que sua
função é exatamente a fixação do sentido das imagens, tal mensagem seria, assim, uma das
técnicas desenvolvidas pelas sociedades, “destinadas a fixar a cadeia flutuante dos
significados, de modo a combater o terror dos signos incertos.”. (ibidem, p.32). A palavra
impediria que a leitora ou o leitor atribuíssem a elementos da cena, significados que não
tivessem relação com o produto anunciado. Desse modo, a mensagem lingüística estaria
exercendo controle sobre a imagem e, digo ainda, sobre aquele/a que olha.
De modo algum, compreender a mensagem lingüística como fixadora, significa
que ela desempenhe efetivamente esta função, afinal a presença do texto ou da legenda não
anula toda a rede de significados culturais que a leitora e o leitor trazem consigo,
impedindo-a/o de fazer inferências que podem ir além da tentativa de fixar sentido pela
palavra. Ao mesmo tempo, aceitar a possibilidade de que a palavra pode fixar os
significados de uma imagem, é afirmar que há entre elas uma relação direta de
correspondência; ou seja, é afirmar que é possível através de palavras traduzir uma imagem
em todas as suas dimensões. Sendo texto e imagem linguagens diferentes, a única relação
possível entre eles é de articulação, de complemento ou de justaposição, mas nunca de
Em seu estudo sobre a fotorreportagem, Helouise Costa (1994), afirma que o ato
de apreender uma fotografia envolve três momentos: primeiro o olhar identifica a imagem;
em seguida, lê a legenda; e, finalmente, retorna à imagem para confirmá-la. Segundo a
autora é esse momento último que permite a apreensão da fotografia e provoca a
dissolução da sua multiplicidade. Nos termos de Barthes (1990), é precisamente esse o
momento da fixação em que a legenda organiza os signos presentes na imagem e direciona
Talvez essa dependência que se criou entre texto e imagem seja parte do regime
escópico que tem sido predominante na cultura ocidental moderna: de um modo de ver que
se mantém a partir da construção de significados por um grupo, que se sobrepõe a outros
significados produzidos por grupos menos representados socialmente. O papel que a visão
ocupa na cultura ocidental está relacionado com as possibilidades de conhecimento
produzidas na sociedade. A visão passa a ser compreendida como o meio de alcançar a
verdade, de atingir o conhecimento puro. Por isso, Chris Jenks (1995, p.1) afirma que na
momento estou buscando aqui, relações causais.
cultura ocidental, “[o]lhar, ver e saber têm se tornado perigosamente entrelaçados”. A
visão, portanto, está relacionada não apenas com as imagens mas também com os textos,
com as letras, com todos os elementos que, de alguma forma, produzem conhecimento a
Nesse sentido, tomar a imagem como, ela própria, tendo suas especificidades, é
um trabalho complexo que requer um afastamento dessa experiência visual na qual
estamos todas/os inseridas/os. Segundo Tomaz Tadeu da Silva (1998) um caminho
possível é analisar as imagens a partir de instrumentos específicos e não de ferramentas
trazidas da análise do discurso, da lingüística ou da literatura. Essa seria uma forma de
trabalhar aspectos próprios da imagem, o que não significa abrir mão da palavra. W.
Os domínios da palavra e imagem são como dois países que falam linguagens diferentes mas que têm uma longa história de migração mútua, troca cultural e outras formas de interdiscurso. A relação palavra/imagem não é um método para dissolver esses limites ou para mantê-los como limites eternamente fixados.5
Ao buscar os signos das imagens, de alguma forma, tentei trabalhar sobre esses
limites, sobre o espaço tênue que separa palavra e imagem, movimentando-me entre esses
dois domínios. Entretanto, considerando que o material analisado é a publicidade impressa,
as próprias letras, as frases no papel, podem ser consideradas também imagens. (ibidem).
Elas também são signos, assim como outros elementos que estão ali e, portanto, podem ser
tomadas como significantes, embora em uma relação mais distante, afinal, o significado
das palavras sempre nos parece menos polissêmico que o significado das imagens.
3 Gênero, sexualidade e publicidade
O gênero está presente nos estudos feministas desde o final da década de 60 e tem sido
abordado no interior de perspectivas diversas que vão desde a teoria marxista até a
perspectiva pós-estruturalista. Não há um marco teórico único de onde partem as
discussões de gênero. Os movimentos feministas não têm a mesma posição teórica ou
política e isso faz com que os direcionamentos ou estratégias de luta dos diversos grupos
também sejam diferentes. Por esse motivo, é necessário dizer que a forma como o utilizo
nesta pesquisa está inserida na perspectiva pós-estruturalista, onde o conceito de gênero
5 Original em inglês. Tradução minha.
Como categoria de análise na perspectiva pós-estruturalista, gênero surge como um
conceito para se referir a masculinos e femininos de forma diferente do que se
compreendia como sexo. Segundo Joan Scott (1995, p.75), “o termo ‘gênero’ (.) é
também utilizado para sugerir que qualquer informação sobre as mulheres é
necessariamente informação sobre os homens, que um implica o estudo do outro”. A idéia
de um caráter relacional estabelecido entre os sexos afasta o binarismo que estabelece
pólos opostos estanques e imutáveis, nos quais o poder é sempre identificado a partir de
um movimento de verticalidade, onde o masculino ocupa o ponto superior. Considerando o
conceito de gênero nessa perspectiva, meu olhar não esteve voltado apenas para as
mulheres mas, principalmente, para as relações entre mulheres e homens, entre femininos e
masculinos, e para as formas de representação da sexualidade.
O movimento feminista ganha força no início dos anos 70, quando a teorização
feminista, através dos Estudos Feministas, pretendia uma virada epistemológica e não
apenas a adaptação da história oficial à história das mulheres. De fato, os Estudos
Feministas começam se preocupando com as mulheres para, em seguida, estudar a
construção social de femininos e masculinos. (Guacira Louro, 1998).
Diferentes sociedades vivem de maneiras diferentes questões de gênero e de
sexualidade; por isto, discutir as relações que se estabelecem entre tais categorias, assim
como defini-las, não é tarefa fácil. O gênero não é um atravessamento que envolve apenas
a família, a sexualidade ou as relações pessoais; ele envolve as instituições sociais e as
relações mais amplas que se dão em todas as sociedades. Tal concepção implica-se na
relação entre o público e o privado, entre relações de poder e relações interpessoais, e
ainda em toda a multiplicidade que tais aspectos carregam, pois em um mesmo grupo
social encontramos diferentes relações de troca, diferentes arranjos familiares, diferentes
formas de viver a sexualidade. Assim, a sexualidade é política, e as identidades sexuais se
constituem dentro destas formações, pois não se pode esquecer que o pessoal é político e
vice-versa, tal como já marcado pelo movimento feminista.
Considerando o caráter múltiplo das identidades, também a identidade sexual é
determinada —e a palavra ‘determinada’ deve ser compreendida aqui não como fixa, mas
contingente— pela forma através da qual sujeitos vivem seus desejos em determinados
momentos históricos. Mesmo dentro de contextos particulares, as formas de viver a
sexualidade não são únicas ou definidas a priori, pois o pertencimento a diferentes grupos
possibilita diferentes tipos de arranjos sexuais, diferentes compreensões das relações de
gênero. A sexualidade, tal como as desigualdades produzidas a partir das características
biológicas, não é algo essencial ou nato.
Por outro lado, ainda que com menor freqüência, comportamentos e hábitos recusados
não estejam de todo excluídos, podemos encontrar representações que ultrapassam o limite
dos padrões normalizadores, provocando conflitos entre os modelos estabelecidos. É a
partir de tais representações e das relações de poder nelas envolvidas, que devemos buscar
compreender de que maneira identidades de gênero podem ser constituídas e representadas
Se compreendemos que são os discursos que constituem o sujeito, suas diversas
identidades e, portanto, suas diferenças, é no processo de enunciação que essas marcas são
produzidas. E como os discursos são construídos historicamente através da linguagem, a
linguagem que é utilizada para atribuir significados é a mesma utilizada para naturalizar as
diferenças. Para Joan Scott (s.d.), as diferenças entre os grupos sociais são concebidas
como categorias dadas a priori e não como categorias relacionais e interconectadas,
produzidas por meio de processos repetidos de enunciação dessas diferenças tão
importantes para o estudo das políticas de identidades.
Apesar de novas formas de masculinidade estarem ganhando cada vez mais espaços
sociais, a idéia do homem como sujeito naturalmente forte e dominante continua muito
presente, tendo como fundamento primeiro as explicações biológicas.
Nas últimas décadas outras formas de masculinidade vêm ganhando maior visibilidade
em diversas instâncias sociais e culturais. Essas novas formas dizem respeito a outros
comportamentos, a novas formas de se relacionar socialmente, a outros tipos de corpo, ou
mesmo a novos modos de vestir. A masculinidade hegemônica —marcada por
características como força física, agressividade, competitividade e heterossexualidade—
nas últimas décadas, está sendo minada por outros códigos de representação.
Segundo Robert Connell (1995, p. 189), uma forma de masculinidade específica “tem
outras formas de masculinidades agrupadas em torno dela”. Há algumas décadas essas
outras masculinidades vêm sendo representadas, e tornando-se mais e mais visíveis,
principalmente em instâncias culturais como a moda e todo o aparato que a sustenta, qual
seja, a mídia. Um exemplo disso é a forma como o corpo masculino vem sendo utilizado
na propaganda de modo sensual e, até mesmo, voyeurístico. O corpo masculino é
sexualizado, ainda que casos como esses sejam poucos e dirigidos, mais especificamente,
ao olhar feminino. Para Jussi-Pekka Kekki (1998, p.1): “[c]orpo masculino e
masculinidade não são tão úteis na publicidade quanto os corpos femininos e a
feminilidade, por causa da opinião profundamente enraizada de que homem é um sujeito
ativo e a mulher um objeto passivo”. Acredito, entretanto, que a passividade do olhar
A conotação sexual em propagandas direcionadas ao público feminino é muito menor.
Segundo Richard Taflinger (1998) isso acontece porque o sexo para as mulheres tem mais
significado em termos de futuro, ou seja, na constituição da família, na realização da
maternidade e para a propaganda o que importa é vender um produto agora. Por isso, a
forma usada com mais freqüência nas propagandas dirigidas a mulheres é o romantismo,
são contextos em que homens aparecem em ambientes ou situações românticas e não
sensuais ou sexuais. Ignorando todos os movimentos das mulheres em tentar minar esses
significados, a pedagogia da mídia insiste em significados construídos em momentos
históricos em que as relações entre mulheres e homens eram permeadas por outros
O homem que serve de modelo carrega a conotação da representação mais corrente
que se tem sobre masculinidade, aquela ligada à força, à virilidade, ainda que seu olhar,
seu sorriso estejam mais próximos do que ficou conhecido como o “homem da nova era”,
ou seja, aquele que privilegia maneiras suaves e carinhosas —atributos considerados
marcadamente femininos. Entretanto essas últimas características são bem menos
freqüentes na publicidade, das quais são exemplares as propagandas de carros utilitários:
na sua grande maioria o que vemos são homens e até meninos —sempre pessoas do sexo
masculino— enfrentando as adversidades da natureza, atravessando estradas de terra, sem
asfalto, com diversos obstáculos. Eles são mostrados em ambientes abertos, amplos,
sempre relacionados com o público e muito pouco com o doméstico.
Os significantes são muito semelhantes e utilizados como uma forma de ensinar por
repetição. São significantes que vão constituindo um currículo cultural e, no caso deste
estudo, ensinando representações hegemônicas de gênero. Tal como o currículo escolar, o
currículo cultural envolve um conhecimento organizado em torno de relações de poder, de
regulação e controle. Não se trata de afirmar que existe um lugar onde tal organização é
detalhadamente planejada, mesmo porque tal lugar não existe. O que importa aqui é
relacionar o conhecimento produzido pela publicidade com as práticas de autocontrole e
auto-regulação que se concretizam na vida cotidiana, através do corpo, do comportamento,
Os códigos de masculinidade, assim como os de heterossexualidade, envolvem
negociar e compartilhar significados nas próprias relações sociais. Compreender a
identidade heterossexual como (re)produzindo-se permanentemente, significa aceitar que a
heterossexualidade —nesse caso, masculina— não é prazerosa e tranqüila sempre. Ao
homem heterossexual atribui-se funções como o sustento financeiro da família, controle
sobre suas emoções, o gosto por esportes, só para citar alguns dos elementos que compõem
o capital sexual. Estes elementos, se ausentes em um homem, parecem “comprometer” sua
sexualidade. Nesses termos é que a heterossexualidade pode ser entendida como um peso,
como um caminho que, para ser trilhado, impõe normas rígidas a serem cumpridas. A
impossibilidade de pôr em cheque essas normas, esses signos, está ligada ao caráter
supostamente natural da heterossexualidade que prescinde de um questionamento de si
É precisamente em meio a esses discursos que são produzidas representações
hegemônicas de heterossexualidade e, em torno dessas representações, várias outras estão
agrupadas e têm menor visibilidade social. Entretanto, o fato de serem menos visíveis não
quer dizer que essas outras representações não encontrem espaços em diversas instâncias
culturais. Ainda que sejam poucas, é possível localizar algumas rupturas em representações
de feminino/masculino ou homo/heterossexualidade nas propagandas; algumas mostram
homens e mulheres em espaços sociais, até então restrito a apenas um dos sexos.
Atualmente, vemos propagandas de carros, cigarros, bebidas onde mulheres estão
presentes, ou propagandas de alimentos e equipamentos de cozinha que são feitas por
Entretanto, principalmente no que diz respeito aos homens, essa ruptura é
imediatamente questionada, já que a representação é sempre marcada pela presença
incomum de uma pessoa do sexo masculino em espaços sociais considerados femininos.
Um claro exemplo são as propagandas de alimentos que mostram o homem cozinhando,
quase sempre, como hobby. Quanto às mulheres, é mais fácil encontrar propagandas onde
somos mostradas ocupando espaços socialmente considerados masculinos; o mais
freqüente deles é o escritório, o local público de trabalho. Contudo, a representação que
permanece tendo mais força é aquela que relaciona feminilidade ao corpo perfeito ou à
possibilidade de maternidade e de família.
Desse modo, podemos estabelecer uma conexão entre corpo, sexualidade e poder, sem
esquecer que tal conexão tem fundamentação histórica, social e cultural. A idéia de que a
mulher exerce poder através da sexualidade, da sedução, exclui sua presença de outras
possibilidades, de outros lugares de circulação do poder. É apenas na vida privada que se
torna possível, por alguns momentos, exercê-lo. Tal compreensão está dentro de uma rede
de informações, de um conjunto de saberes que compõe o pensamento e o comportamento
dos sujeitos de uma dada sociedade, a respeito do que vigora como sexualidade em uma
época determinada. Tais saberes constituem uma pedagogia que (re)produz continuamente
as formas pelas quais a cultura busca moldar homens e mulheres para manter as sociedades
tal como estruturadas há séculos. O corpo e a sexualidade têm sido campos férteis onde a
sociedade busca regular condutas e comportamentos.
O corpo como significante fica sob a mira da ciência, da mídia, da religião. O avanço
tecnológico rompe as fronteiras dos corpos e é a ciência —através da inseminação
artificial, da invenção do Viagra, da clonagem— que cada vez mais tem minado a idéia de
corpo natural. As descobertas científicas estão implicadas no modelo cultural vigente e
traçam para o corpo novas formas de existir. A imposição do corpo perfeito, ao mesmo
tempo que se configura em uma manifestação cultural, implica a responsabilidade sobre o
próprio corpo. É principalmente a mídia que transfere para o indivíduo a responsabilidade
sobre seu próprio corpo, culpabilizando-o caso não corresponda à estética definida. São
elaborados projetos de corpo para enquadrar as pessoas, utilizando as mais diversas
A preocupação com a estética corporal, a interferência no corpo, sua utilização como
lugar de marcas de pertencimento, não são movimentos recentes. Desde a Grécia Antiga o
culto ao corpo comportava grande importância fazendo parte, inclusive, da relação entre os
homens e os deuses. Em outras sociedades o corpo era parte essencial em rituais e
cerimônias religiosas e, segundo Schilling (1997), é exatamente esse ponto que
particulariza os projetos de corpo da Modernidade: enquanto nos primeiros casos, o corpo
tinha um caráter de socialização, de compartilhamento; em tempos recentes, os projetos de
corpo pressupõem uma relação mais individualizada com o próprio corpo. Os indivíduos
estão mais preocupados com “o gerenciamento, a manutenção e a aparência de seus
corpos.” (ibidem, p. 69). Esse é apenas um aspecto da regulação social e do poder que se
exerce através do corpo e que está implicado na narrativa de grande parte dos anúncios
As narrativas históricas em torno da sexualidade feminina mostram os mecanismos
através do qual o poder está presente nesse campo. A sexualidade, e o corpo da mulher têm
sido definidos a partir dos códigos de masculinidade, e essa definição conduz às formas de
comportamento tal como estão configuradas hoje, assim como, servem para justificar a
desigualdade entre os sexos. Mas é preciso dizer que os movimentos feministas têm
questionado cada vez mais as posições que são atribuídas às mulheres nas sociedades
contemporâneas; portanto, as relações de poder que se estabelecem nas questões de gênero
A narrativa do corpo perfeito, do comportamento adequado para os gêneros e para os
lugares, dos modos de vestir relacionados com o tipo de corpo e com a idade, são todos
signos que atravessam imagens publicitárias. Nesse processo é que os significantes são
preenchidos por significados carregados de marcas sociais que, obviamente, implicam
sexualidade, gênero, raça/etnia, geração e são atravessados por relações de poder. São
esses os elementos principais que formam o currículo cultural em ação através da
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