Partido Socialista Português
As origens do movimento operário e socialista em
Portugal datam da proclamação da Comuna de Paris. Em 1871, a Associação Internacional dos Trabalhadores, mais conhecida pela primeira internacional, delegou na sua secção hespanhola, conforme as instruções do seu Conselho Geral, em Londres, que três emissários viessem a Portugal pôr-se em contacto com os elementos operários avançados, afim de se organisar a secção portugueza. Esses delegados eram Anselmo Lorenzo, Morago e Francisco Mora, que pondo-se em prudente ligação com o Centro Promotor das Classes Laboriosas e com José Fontana e Antero do Quental, realisaram varias reuniões, sendo algumas a bordo dos barcos cacilheiròs, em pleno Tejo, conseguindo que se creasse a secção portugueza da primeira Internacional, organizando-se em seguida a Fraternidade Operaria, que agrupou uns dez mil filiados em Lisboa, oito mil no Porto e alguns milhares mais n'outros pontos do paiz.
Antero do Quental escreveu então o famoso folheto
— O que é a Internacional ? — sendo em fevereiro de 1872 fundado O Pensamento Social, em Lisboa, primeiro semanário socialista que existiu no paiz, em que colaboraram Antero do Quental, Oliyeira Martins, Nobre França, Tedeschi, Batalha Reis e outros. No Porto apareceu O Bom Senso, a 9 de agosto de *873.
O movimento socialista em Portugal pode dívidir-se
em três períodos distintos. O primeiro, sem remontarmos á época ideológica, é o que nasce com a fundação da Fraternidade Operaria, em 19 de janeiro de 1872, até fins de 1873, data em que se organisou a Associação dos Trabalhadores da Região Portugueza, que, em harmonia com as deliberações do Congresso de Haya, onde o nosso paiz se fez representar por Paulo Lafargue, genro de Karl Marx, creou em 10 de janeiro de 1875, por proposta de Azedo Gnecco, patrocinada por José Fontana, o Partido Socialista Portuguez; o segundo, é o que vêm desde 1874 até 1910, espaço de tempo em que, n'alguns períodos, a acção socialista foi fecunda e em que se fundou, em 1878, o Partido dos Operários Socialistas, por motivo da scisão, e em que se lançaram as bases da Confederação Nacional das Associações de Classe, o mais potente organismo operário existente até agora; o terceiro, é o que decorre desde a proclamação da Republica até nossos dias, que nos primeiros tempos atingiu uma relativa importância.
Durante estes periodos realisaram-se onze Congressos
Nacionaes, um Congresso extraordinário e três Conferencias, assim como cinco Congressos Regionaes no Sul, e outros tantos no Norte.
O primeiro programa do P. S. P., aprovado no congresso
de Lisboa, em 1877, foi elaborado por Nobre França. É um trabalho de alto valor, sendo citado por Benoit Malon na sua obra O Socialismo Integral, como um documento importante. Em 1882 foi substituído por outro, apresentado por José Ribeiro, do norte, na Conferencia de Lisboa, sendo revisto na Conferencia de Tomar, em 18o5, até que nas Conferencias regionaes de 1907 e 1908 foi adotado o programa codificado por Azedo Gneeco, o qual foi sanccionado no Congresso Nacional, em 1911, realisado em Lisboa, e é o qué vigora ainda.
No Congresso Nacional, em 1913. no Porto, foram
aprovados o programa municipal, da autoria de João Dias da Silva, e o agrário, . coordenado por César Nogueira.
A 7 de agosto de 1875 apareceu em Lisboa o 1.° numero
do Protesto, dirigido por Azedo Gneeco, o mais notável orador socialista, e mais tarde por Luiz de Figueiredo, que tinha então 17 anos, o mais primoroso jornalista socialista portuguez. Este jornal exerceu uma grande influencia no meio operário e nos centros cultos, que depois se fundiu com o Operário, do Porto, redigido por José Ribeiro, Bessa de Carvalho e Guedes de Oliveira, ficando assim o Protesto Operário, de memorável tradição. Muitos outros jornaes tem tido o P. S. P. no sul e no norte,, entre eles os diários A Lucta e A Federação, ambos em 1900, e Ó Combate e O Rebate, também os dois em 1919, todos de Lisboa.
Nos Congressos internacionaes o P. S. P. fez-se
representar, como dissemos, no Congresso de La Haya, em 1872, por Paulo Lafargue, onde foi deliberada a constituição dos partidos socialistas nacionaes; em I889, no Congresso de Paris, por Luiz de Figueiredo e Viterbo de Campos, onde foi votada a manifestação do 1." de Maio; em 1896, no Congresso de Londres, por Azedo Gneeco, no qual foi resolvido que se fizessem parte da segunda Internacional os organismos que aceitassem a luta no terreno politico; em 1912, no Congresso da Bale, por António Pereira e Mário Nogueira, em que a Internacional se manifestou contra a guerra: em 1926 no Congresso de Marselha, peloDr.Herlander Ribeiro. Também se fez representar na Conferencia socialista inter-aliados, em Londres, em 1917, pelo Dr. Costa Júnior e César Nogueira.
No tempo da monarquia o P. S. P. esteve filiado no
Bureau Socialista Internacional, mas esta filiação só foi um facto definitivo cm 1913.
Em 1912, constituiu-se a União das Mulheres Socialistas
em Portugal, chegando a contar no seu seio 73 filiadas. Em 1913 constituiram-se os primeiros grupos de Juventudes Socialistas, em harmonia com as deliberações aprovadas no V Congresso Nacional (Porto).
Em 1911 foi eleito o primeiro deputado socialista,
Manuel José da Silva, pelo circulo do Porto, nas primeiras eleições da Republica; em 1915, o Dr. Costa Júnior, também pelo Porto; em 1918, João de Castro, na lista da Liga Africana, por S. Tomé; em 1921, Manuel José da Silva e Ladislau Batalha, pelo Porto, António Pereira, Augusto Dias
da Silva, Dr. Costa Júnior e José de Almeida, por Lisboa; Campos Mello, pela Covilhã, tendo depois aderido ao grupo parlamentar socialista o Dr. Ramada Curto.
Em 1913 foram eleitos os primeiros representantes
socialistas nos corpos administrativos, n'um total de 60. N'outros períodos eleitoraes também o P. S, P. obteve vantagens, mas não podemos precisar números. Em 1918, foi nomeado o primeiro ministro socialista, Augusto Dias da Silva, para o Ministério do Trabalho e depois os Drs. Ramada Curto e Costa Júnior.
Não inserimos as estatísticas das votações socialistas
nem do cadastro partidário por falta de elementos comprovativos. O que aqui fica, no entanto, e isto como notas rápidas, é o suficiente para aquilatar a soma de trabalho que o P S. P. tem produzido em benefício da propaganda socialista na região portugueza. César Nogueira.
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(Retirado do Almanaque Socialista de 1931)
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